Conscientização, prevenção e cuidado são o mote da conversa com a psicóloga e assistente social, Reijane Morais
este mês de setembro, marcado pela campanha de conscientização sobre a prevenção ao suicídio, o DNOCS apresenta uma entrevista com Reijane Morais, servidora aposentada da instituição, assistente social e psicóloga. Reijane compartilha suas perspectivas sobre o delicado tema do suicídio, abordando a importância do acolhimento, do apoio emocional e da conscientização. Em uma conversa franca e sensível, ela nos oferece reflexões e orientações para contribuir com a campanha do Setembro Amarelo.
1. Qual é a importância do Setembro Amarelo e como ele contribui para a conscientização sobre a prevenção do suicídio?
Reijane: O Setembro Amarelo visa alertar e reforçar os cuidados sobre a saúde mental intensificando, dessa forma, a prevenção ao suicídio, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero.
2. Quais são os sinais de alerta que indicam que uma pessoa pode estar em risco de suicídio?
Reijane: De acordo com Ministério da Saúde, alguns sinais demonstram que o indivíduo está vivenciando uma crise suicida, embora cada caso deve ser analisado de forma individual: falta de esperança, aparecimento de problemas de conduta, manifestações verbais de morte, expressão de ideias ou de intenções suicidas, isolamento. Pessoas próximas e familiares devem ficar atentos, principalmente, se a maioria desses sinais se manifestarem ao mesmo tempo.
3. Como o ambiente de trabalho pode influenciar na saúde mental dos colaboradores, e quais práticas podem ser adotadas para promover o bem-estar emocional no local de trabalho?
Reijane: O ambiente laboral pode afetar a saúde do trabalhador de várias formas, tanto positiva quanto negativa. Se no local de trabalho as relações são ruins, se não há espaço para o diálogo, se há uma carga horária cansativa, uma sobrecarga de trabalho e o trabalhador não se sente reconhecido, tudo isso pode contribuir para o surgimento de sentimentos de angústia, depressão ou ansiedade, acarretando em uma desmotivação e consequente baixa produtividade. Ter um ambiente agradável, com boas relações, boa comunicação, bons equipamentos, mobiliário ergonômico, salários justos, são fatores que proporcionam qualidade de vida no trabalho e uma boa saúde mental.
4. Que papel a família e os amigos desempenham na prevenção do suicídio, e como eles podem oferecer apoio a alguém que esteja passando por um momento difícil?
Reijane: É fundamental que os familiares e amigos fiquem atentos aos sentimentos da pessoa, respeitando e não fazendo julgamentos, mas mostrando preocupação e cuidado. Caso percebam que a situação é grave, devem estimular a pessoa a procurar ajuda profissional.
5. Quais são os principais fatores de risco associados ao suicídio e como podemos abordá-los de maneira preventiva?
Reijane: Os fatores de risco para o suicídio são muitifacetados e variam de acordo com a idade, o gênero, o histórico pessoal e cultural. Mas, podemos relacionar alguns indicadores que podem contribuir para o risco de suicídio: genética familiar, ambiente familiar tóxico (maus tratos, abuso físico e sexual), transtornos psiquiátricos, doenças crônicas debilitantes, perdas e luto, orientação sexual (rejeição), abuso de substâncias lícitas e ilícitas. É necessário que seja fortalecida a rede de apoio dessa pessoa, família e profissionais envolvidos juntos dando suporte e, também, que sejam restritos os meios prováveis de realização do suicídio (armas brancas e de fogo, medicamentos, dentre outros).
6. Como as políticas públicas podem ajudar na prevenção do suicídio e na promoção da saúde mental no Brasil?
Reijane: O suicídio tem aumentado em vários países, incluindo o Brasil e, principalmente, entre os jovens entre 15 a 24 anos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio se tornou uma das dez principais causas de morte no planeta. Diante desse quadro, as Políticas Públicas são imprescindíveis na prevenção e enfrentamento do suicídio, através de ações do governo federal, estadual e municipal e, também, da sociedade civil e de ONGs.
Algumas portarias foram instituídas, pelo Ministério da Saúde, referentes a ações sobre o tema suicídio, transcritas a seguir do site do ministério:
– “O Ministério da Saúde lançou em 2006 a Portaria nº 1.876, de 14 de agosto de 2006, que institui Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio, a ser implantadas em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão;
– Ainda em 2006, lançou o Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Este material encontra-se em processo de revisão e atualização;
– Em 2011, pela Portaria nº 3088/2011, foi instituída a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo ofertado o cuidado em saúde mental por todos os pontos da RAPS, que prevê a articulação desde Atenção Básica: Equipe de Saúde da família (ESF), Unidade Básicas de Saúde (UBS), Centro de Convivência, Consultório na Rua, Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) até a Atenção Hospitalar e serviços de urgência e emergência (UPA 24h, SAMU 192), sob a coordenação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS);
– A Portaria nº 1271, de 06 de junho de 2014, a qual define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, torna as tentativas de suicídio e o suicídio agravos de notificação compulsória imediata em todo o território nacional. O que indica a necessidade de acionamento imediato da rede de atenção e proteção para a adoção de medidas adequadas a cada caso;
– Curso EAD, parceria do Ministério da Saúde e UFSC, de Crise e Urgência em Saúde Mental. Entre os anos de 2014 e 2015 foram certificados 1.990 profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde.
– Desde 2015, o Ministério da Saúde mantém parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição voltada ao apoio emocional por meio de ligação telefônica para prevenção de suicídios. Neste ano (2017), a parceria foi ampliada, tendo sido assinado um novo Acordo de Cooperação Técnica, que prevê a gratuidade das ligações ao CVV em todo o território nacional.
– Em setembro de 2017, o MS lançou o Boletim Epidemiológico 2017 e a Agenda de Ações Estratégicas para a Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil 2017-2020.
– Considerando a necessidade de construir e coordenar ações voltadas à prevenção do suicídio, a Portaria nº 3.479, de 18 de dezembro de 2017, instituiu o Comitê Gestor para elaboração de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio no Brasil em consonância com as Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio e com as Diretrizes Organizacionais das Redes de Atenção à Saúde;
– A Portaria Nº 3.491, de 18 de dezembro de 2017 institui incentivo financeiro de custeio para desenvolvimento de projetos de promoção da saúde, vigilância e atenção integral à saúde direcionados para prevenção do suicídio no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS).
Num primeiro momento, foram selecionados os 05 estados com maiores taxas de mortalidade por suicídio (Rio Grande do Sul, Roraima, Piauí, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina), e o Amazonas, que ocupa o 10º lugar no ranking, tendo em vista o número de indígenas no estado e a alta incidência de suicídio entre essa população. O MS, por meio de apoio técnico e financiamento, acompanhando esses seis estados na elaboração de seus respectivos Planos Estaduais de Prevenção do Suicídio, os quais funcionarão como projetos pilotos para construção do Plano Nacional de Prevenção do Suicídio”.
7. De que maneira as campanhas de conscientização, como o Setembro Amarelo, podem combater o estigma em torno da saúde mental e do suicídio?
Reijane: A campanha “Setembro Amarelo” vem, ao longo dos anos, esclarecendo sobre o suicídio, suas causas, sobre as ações preventivas e, principalmente, desfazendo os mitos, o medo, a incompreensão e os preconceitos que são fatores que alimentam o estigma e contribuem, cada vez mais, com a discriminação e exclusão das pessoas que enfrentam problemas de saúde mental. É importante esse alerta para uma maior atenção e conscientização sobre esse tema tão recorrente e preocupante na sociedade nos dias atuais.
8. Quais são os mitos mais comuns sobre o suicídio que precisam ser desmistificados pela sociedade?
Reijane: Podemos destacar alguns mitos mais comuns sobre o suicídio e que precisam ser desmistificados para que o enfrentamento e a prevenção sejam mais eficientes como:
A pessoa que tem a intenção de tirar a própria vida não avisa;
Pessoas que falam sobre suicídio só querem chamar a atenção;
Apenas pessoas com transtornos mentais podem cometer suicídio;
A pessoa que pensa em suicídio quer realmente morrer;
A pessoa que supera uma crise de suicídio ou sobrevive a uma tentativa está fora de perigo;
O suicídio é hereditário;
O suicídio não pode ser prevenido;
Falar sobre suicídio pode estimular sua realização.
9. Como alguém que está passando por um momento de crise pode buscar ajuda, e quais são os recursos disponíveis no Brasil?
Reijane: Se a pessoa estiver passando por um momento difícil e tiver pensamentos suicidas é fundamental buscar ajuda profissional imediatamente (psiquiatras, psicólogos). Há diversos serviços de saúde mental nas redes públicas e privadas, como o SUS que oferta o cuidado com a saúde mental através da Atenção Básica (Equipe de Saúde da família (ESF), Unidade Básicas de Saúde (UBS), Centro de Convivência, Consultório
na Rua, Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), como também a Atenção Hospitalar e serviços de urgência e emergência (UPA 24h, SAMU 192), sob a coordenação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Ainda, há o Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição voltada ao apoio emocional por meio de ligação telefônica (telefone 188) para prevenção de suicídios.
10. Durante todos os anos que você trabalhou no DNOCS, quais as principais ações da saúde mental foram implantadas para os colaboradores e como foi a sua participação nelas?
Reijane: Durante o tempo que estive trabalhando no DNOCS sempre houve preocupação por parte da equipe de Gestão de Pessoas em proporcionar ações visando o bem-estar dos servidores e colaboradores. Realizamos seminários que focaram em diversos temas, como preparação para a aposentadoria, onde alguns profissionais ministraram palestras sobre diversos aspectos da vida. Desenvolvemos e implementamos o Programa de Qualidade de Vida no qual destacamos o Projeto Otophilos (com objetivo de atenção à saúde mental através de escutas qualificadas) e também realizamos rodas de conversas, oficinas de artes manuais, em destaque a oficina de crochê, sempre visando melhorar as relações e, principalmente, a saúde mental no ambiente laboral.
11. Qual é a mensagem que você gostaria de deixar para as pessoas que estão enfrentando desafios em sua saúde mental, especialmente durante o Setembro Amarelo?
Reijane: Inicialmente, quero informar que a pessoa que está em sofrimento psíquico precisa de ajuda e compreensão. Ela não está assim por decisão própria, mas por estar com sua saúde mental adoecida. Não deve sentir vergonha e não deve hesitar em pedir ajuda. Também, é primordial compreender que a recuperação da saúde mental é possível.
Fonte: Ministério da Integração e Desenvolvimento