Comunicação em SST: Conexão assertiva

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| 29/10/2024

Transmitir mensagens claras e simples facilita que a teoria se torne uma prática na SST

Reportagem de Marla Cardoso/Revista Proteção

Já dizia José Abelardo Barbosa de Medeiros: “quem não se comunica, se trumbica”. O bordão popularizado pelo apresentador Chacrinha, na década de 1980, revela uma verdade: a ausência de comunicação clara e simples pode impedir o entendimento da mensagem e, consequentemente, o aprendizado. É que para chegar ao interlocutor, não basta apenas ouvir a informação. É preciso que ela seja compreendida. E mesmo que estejamos vivendo em plena era da tecnologia da informação, isso não garante assertividade.

Pelo contrário, com tantas distrações, basta um clique para nos desconectarmos do que está sendo dito no mundo real. Quando essa máxima é levada para o dia a dia da Saúde e Segurança do Trabalho, os desafios ficam ainda maiores, já que, muitas vezes, o conteúdo a ser comunicado é técnico e o público que precisa ter acesso às informações, diverso. Mesmo desafiador, é essencial que os profissionais de SST percebam como se comunicam com os trabalhadores.

Isso porque, de nada adianta uma normatização que atenda às necessidades dos negócios e processos bem desenhados, se eles não forem assimilados e aplicados de maneira adequada. Hoje há muitas ferramentas que podem colaborar para aprimorar essa comunicação, seja nos diálogos diários, em treinamentos, em momentos de feedback ou mesmo em reuniões de trabalho. É preciso buscar conhecimento sobre esses aliados da boa comunicação e, mais do que isso, estar aberto para repensar sobre a forma como se está comunicando.

Analisando as teorias da informação, a comunicação parece algo simples. Para que ela aconteça basta uma mensagem, um transmissor, um canal – o meio para transmiti-la -, o receptor e um contexto – conjunto de circunstâncias que condicionam a interpretação daquilo que se quer comunicar. É um processo tão inerente e automático que geralmente não paramos para pensar em sua complexidade. Mas não é tão fácil quanto parece.

A psicóloga, mestre em Psicologia e especialista em Aprendizagem em SST, Juliana Bley, diz que a comunicação, no seu sentido mais amplo, tem a ver com trocas, de informação, orientações, conexão entre pessoas e equipes, áreas, entre o topo e base das empresas. “Quando a empresa tem uma estratégia, um posicionamento no mercado, uma agenda de produtividade, tudo se conecta com as condições de trabalho de quem está produzindo, e não só das pessoas da área produtiva, mas também da logística, administrativa, de todo o negócio. Por isso gosto de trabalhar com o conceito de rede”, explica.

Esse conceito remete a pensar a empresa como uma rede viva em que vários departamentos se interconectam, onde o topo e a base precisam se conectar, onde o trabalhador próprio e o terceirizado trabalham em alinhamento. “Essa rede está viva, trocando informação, demandando e pedindo apoio. A comunicação é essa rede de conexões que faz com que todos esses elementos possam fluir e essa grande organização empresarial possa funcionar de forma saudável e gerar segurança e saúde para quem está dentro”, afirma.

No dia a dia, para que essa junção seja uma prática, parece óbvio, mas é preciso que as mensagens sejam transmitidas com clareza e simplicidade. E isso requer, inicialmente, saber o resultado que pretendemos alcançar com aquilo que estamos comunicando. Dominar muito a informação também não é garantia de uma comunicação assertiva. É preciso que o conteúdo seja inteligível, que o emissor da mensagem saiba ouvir, e que o meio pelo qual a mensagem foi transmitida também colabore para que a informação seja compreendida. Quando falamos em comunicação sobre Saúde e Segurança do Trabalho, esses conceitos merecem ainda mais atenção. Isso porque, para aqueles que não estão habituados com as rotinas de SST, o conteúdo pode soar como muito técnico.

PROPÓSITO
Se a intenção dos profissionais que trabalham pela cultura preventiva é transformar o que está na normatização em uma prática e, mais do que isso, promover mudanças na cultura de segurança das empresas, é preciso encurtar a distância que, muitas vezes, se estabelece entre quem está transmitindo e aqueles que estão recebendo uma informação de Saúde e Segurança do Trabalho. Uma das profissionais ouvidas pela reportagem que acredita que o papel da comunicação na efetivação da SST é central para transformar normatizações em práticas cotidianas é a especialista em Educação e Ergonomia, mestre em Engenharia de Produção e CEO da empresa Trampolean, Fabiana Raulino.

Para ela, a atitude prevencionista não se constroi na obrigação, mas no sentido e no propósito. E essa justamente é uma das máximas da comunicação: compreender aquilo que está sendo dito e que a mensagem tenha fundamento. “A normatização pode ser robusta e os processos bem desenhados, mas sem uma comunicação eficiente, os trabalhadores não irão assimilar nem aplicar as diretrizes de maneira adequada. A comunicação é o meio pelo qual o conhecimento é transferido, internalizado e replicado. Nesse sentido, é preciso ir além da mera transmissão de informações, aplicando princípios da semiótica, que estuda os signos e seus significados dentro de contextos culturais e organizacionais”, explica Fabiana.

A comunicação também deve ser adequada ao público-alvo, utilizando símbolos e linguagens que façam sentido para os trabalhadores, respeitando suas diversidades linguísticas e culturais, e empregando canais apropriados (digitais ou presenciais). “A comunicação eficaz é aquela que consegue criar um elo entre a normatização formal e a vivência diária dos trabalhadores”, resume a especialista. Como resultado, na prática, o engenheiro de Segurança do Trabalho e professor, Mário Sobral Jr., afirma que será possível que os trabalhadores compreendam, por exemplo, as normas e regras de SST, entendendo o que é esperado deles no contexto laboral; os riscos envolvidos, reconhecendo os perigos que podem enfrentar no ambiente de trabalho; além de como eles podem contribuir para a segurança, sabendo como suas ações podem prevenir acidentes e doenças ocupacionais.