Buscando reduzir o impacto da indústria da construção no meio ambiente, o setor tem apostado na eficiência energética de edifícios e o incentivo a construções mais sustentáveis como forma de reduzir emissões. Entendendo a necessidade de adaptação nos projetos das edificações para o avanço da pauta ESG, sigla em inglês que representa sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) tem uma parceria com a Internacional Finance Corporation (IFC), membro do Banco Mundial e maior instituição global de desenvolvimento voltada para o setor privado de mercados emergentes.
Assinado em 2021, o acordo entre a CBIC e a IFC visa disseminar o mercado de construção verde por meio da certificação internacional EDGE (Excellence in Design for Greater Efficiencies). A certificação permite a identificação de formas mais econômicas para o uso de energia, água e de materiais utilizados no processo construtivo. Para o presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA) da CBIC, Nilson Sarti, fomentar o uso da certificação é uma importante contribuição com o processo de redução de emissões de gases que provocam o efeito estufa e com potencial de gerar uma mudança cultural no setor.
“A adoção da certificação EDGE pelas incorporadoras é uma forma de atender as diretrizes ESG, incentivar mudanças em prol da sustentabilidade na sociedade e, além disso, a certificação pode servir como um pré-requisito para a obtenção de financiamentos verdes”, apontou.
Hoje, o Brasil conta com mais de 70 empreendimentos que já possuem a certificação EDGE. “A certificação é uma garantia para o consumidor final. Ela demonstra que o imóvel que está sendo adquirido causa menos impactos no meio ambiente e, além disso, poderá dar um retorno positivo no bolso do consumidor por ter menos custos operacionais”, apontou a CEO da Quanta Studio e responsável por assessorar mais de 60 projetos EDGE no Brasil, Daniela Corcuera.
A incorporadora Moura Dubeux, que atua na região Nordeste, conta com um prédio com certificação EDGE em Fortaleza, no Ceará. Mara Moura Dubeux, gerente de produtos da empresa, explicou que o selo faz parte do compromisso e da estratégia de ESG da empresa. “Nosso objetivo com a certificação é disponibilizar unidades habitacionais ecoeficientes, proporcionando uma mudança de cultura e criando consciência sobre a importância e contribuição com o meio ambiente”, disse.
De acordo com a gerente, a primeira edificação com financiamento verde no Nordeste alcançou 40% de eficiência energética. Isso significa que o empreendimento consome 42% menos energia se comparado com um mesmo edifício construído com as práticas atuais de construção.
Dentre algumas mudanças adotadas, destacam-se a utilização de vidros verdes de baixo fator solar, que permitem a passagem de luz mas reduzem o calor; e o sombreamento nas varandas, que proporciona redução do ganho térmico e, consequentemente, menor necessidade do uso do ar-condicionado. Além de ajudarem no conforto térmico, tais medidas podem ter importantes benefícios financeiros, como uma conta de serviços e de condomínio menores.
De acordo com indicadores fornecidos pela solução EDGE para o Brasil, as residências que incorporam medidas de eficiência para obter a certificação podem alcançar, em média, economias de até US$ 263 (dólares) no custo dos serviços públicos. “Com a utilização de materiais de menor energia e tecnologias construtivas que reduzem as emissões de CO2, temos edifícios mais eficientes e o usuário ajudará na contribuição para a preservação de recursos naturais”, disse Daniela Corcuera.
Com dois edifícios em processo de certificação em São Paulo, a sustentabilidade também é um compromisso da incorporadora Tegra, apontou a analista ESG da empresa, Hannah Sung. “Quando pensamos em edifícios sustentáveis, naturalmente focamos no consumo de energia, de água e de materiais. A certificação EDGE traz esses pilares de forma simplificada e transparente”, afirmou.
Os clientes estão cada vez mais engajados em questões sustentáveis, destacou Hannah, e o processo de estruturação de edifícios mais sustentáveis é cada vez mais essencial. “É muito importante ter uma certificação que ratifica estratégias e métodos sustentáveis de construção nas edificações, reafirmando o nosso compromisso com o meio ambiente”, apontou.
O debate sobre a importância da mobilização do setor da construção e do governo federal será um dos temas destaque do evento Rio Construção Summit, que acontecerá em setembro, no Rio de Janeiro. “A CBIC tem se empenhado em abrir o debate sobre a necessidade de marcos regulatórios que tragam maior segurança jurídica aos investidores e ampliem a participação do Brasil na cadeia global de valor, aproveitando as vantagens competitivas do país”, afirmou Nilson Sarti.
Durante o evento serão abordados temas como gestão hídrica e energética, resiliência urbana, mudanças climáticas, além do processo de descarbonização da indústria da construção. “A participação da Comissão de Meio Ambiente da CBIC em mais este importante evento demonstra que seguimos atentos e empenhados em disseminar o tema pelo país e pelo setor”, disse.
O tema tem interface com o projeto “Cenários e Transição para uma Economia da Indústria da Construção de Baixo Carbono”, da Comissão de Meio Ambiente (CMA) da CBIC, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional).